Olá, pessoal! Tudo bem com vocês?

Durante o decorrer da minha vida, eu tive vários empregos e várias formas de ganhar meu dinheiro. 

Desde o meu primeiro emprego, em uma fábrica de mel, que me rendia uns cem reais por mês, no inicio da minha adolescência nos anos 90, até fazer bolos e outras coisitas mais, para vender.

Um dos trabalhos que mais me deram prazer, foi em um bar em que fui sócia com um amigo, amigo esse, que era meu ex-marido, mas, não é sobre isso que venho falar hoje! 

Eu adorei trabalhar naquele bar! Foi uma experiência profissional e de vida, surpreendente!

Dessa época, nasceu a inspiração para esse texto abaixo, espero que gostem! :-)


REFUGIADOS

 Aquele barzinho, lugar de tantas histórias de vida.

Aquele barzinho, ficava em uma encruzilhada e assim, como vi macumbeiro rezar, vi cristão a gritar.

Aquele barzinho, 24hs no ar.

Era caminho de pessoas saídas de seus trabalhos noturnos, muitas vezes suas mesas marrons, com manchas de bitucas de cigarro apagadas, serviram de cama para a algum tempo de sono atrasado, até o horário do primeiro ônibus.

Naquele barzinho, todo dia tinha emoção e alegria, traficante gente boa, velhote arrogante.

Naquele barzinho, passava torcida do Corinthians e também encontro de memes, tinha pedinte educado e também tinha os que xingavam a gente, naquele barzinho conheci muita gente.

Tinha madame, maloqueiro, empresário, maconheiro, marombeiro, trambiqueiro, gente que dava dinheiro a mais, e gente que pedia dinheiro pra gente.

Naquele barzinho, tantas vezes lavei o chão, tantas vezes a espuma misturou-se com sangue das brigas dos esquentadinhos, quantas vezes cozinhei pratos, fiz cafezinho, preparei quitutes, porções, saladas e salgadinhos, lanches variados, e entre doces, quentes, chocolates cremosos e sorvetes gelados;

Fui sorriso, fui ouvido, fui a melhor amiga de uma noite, ou uma madrugada, fiz ótimos  conhecidos e me envolvi com pessoas erradas. 

Aquele barzinho, na encruzilhada, chamava atenção de todo tipo de gente, atendia grandes galeras e também muita gente solitária, esquecida até por parentes.

Naquele barzinho, vi de perto o que a dor da solidão pode fazer com as pessoas. 

Naquele barzinho, vi rodas cheia de gente escrota e cheia de gente marota, enquanto uns tentavam ajudar, outros apunhalavam pelas costas, pela frente de todos os lados. 

Naquele barzinho, vi criança com fome, casal se juntar, casal se trair, casal separar, casal se agredir, criança chorar.

Naquele barzinho, mais uma vez aprendi trabalhar, aprendi sobre mim mesma, aprendi novas receitas de hambúrguer e sobremesas e de engolir o choro, o cansaço as dores no peito e no corpo, e carregar grade de cerveja. 

Naquele barzinho, tantas madrugadas frias esperei por clientes, com sopas e caldos  já preparados, com torradas fininhas feitas na chapa, com alguns pingos de azeite, orégano e muito carinho.

Naquele barzinho, tantas madrugadas quentes passei, servindo Chopp gelado, cafés com sorvete e ouvindo o grande ventilador barulhento espalhando seu vento, sentada no meu banquinho 

Trocando cds, e tentando deixar todos satisfeitos: "uma faixa musical para cada ouvinte, sem brigas, ou vão ouvir apenas meu Metal Love e Flash Back, com as mesmas músicas de sempre, que embalam minha rotina. E não preciso ficar ouvindo ninguém pedindo".

Naquele barzinho, fazia pedidos, ouvia pedidos, proposta de trabalhos, cantada barata, proposta de casamento e até de faculdade. 

Naquele barzinho, garotas de programa tomavam seu último drink, fumavam cigarro, e se preparavam para chamar um carro.

Muitas desrespeitadas por algum abusado, que sabiam com que elas trabalhavam: com elas mesmas! Eram donas de si.  Elas eram tudo o que eles nunca seriam, livres. 

Donas de suas madrugadas. Viviam a vida à sua maneira, e mandavam na suas braguilhas e carteiras.  E eles criticavam o lugar que era feito para eles, criado por eles, para o deleite deles. 

Aqueles meninas, mulheres, muitas vezes maltratadas e exploradas, por cima olhadas, já me trouxeram alegria e simplicidade, algumas como qualquer ser humano: pura maldade. Fiquei sabendo mais, de um mundo que não conhecia, coisas que eu não sabia e muitas, preferia nunca ter que saber. 

Naquele barzinho, vivi amores, rancores, amizades, situações hilárias, constrangedoras, superações, pessoas viciadas e pessoas só por hoje, todas convivendo e sobrevivendo.

Naquele barzinho, aprendi muito sobre a multiplicidade do ser humano, em tantas facetas, muletas, sorrisos e caretas.  Deixei muito de mim com muitos, trouxe muito aprendizado, lembranças e demorei a cicatrizar algumas feridas, tanto de copos quebrados quanto de palavras ouvidas.

Naquele barzinho, comecei e encerrei ciclos importantes da minha vida.

Entre, amigos, ficantes, namoradas e conhecidos, me tocaram e eu também toquei. Entre a noite e o dia trabalhei, quase me matei.

Naquele barzinho, chorei de alegria e me emocionei, aprontei arte igual criança, e fiz arte na cozinha, com meus temperos e minhas batatinhas, sempre fritas em óleo limpo, e lanches bem temperado na chapa quentinha;

Sorri, cantei, dancei, abracei 

Passei noites incríveis.

E dentro de tanta loucura, foi dos trabalhos que mais amei.

Obrigada barzinho! por tantas horas que em ti passei.


E você, teve algum trabalho marcante, ou diferente? Divide comigo nos comentário? Eu vou ficar muito grata! 💜

Comentários

MAIS LIDAS

Nunca viu diferenças não, Inácia?

Nunca ouviu eco no vazio, não, Inácia?

Nunca viu comida não, Inácia?